Geralmente isso acontece quando os pequenos começam a tomar consciência de que possuem o controle do esfíncter e que o xixi e o cocô são de sua autoria, o que fazem com que eles se sintam todo-poderosos. Esquisito? Mas é assim que acontece. Afinal, agora cabe a eles decidir quando e se vão segurar ou soltar suas produções, que para eles são valiosíssimas.
Os psicanalistas dizem que o cocô é a primeira obra de arte do bebê. Pois é. Diferentemente de nós, adultos, eles não o vêem como algo sujo e fedorento. Isso eles aprendem mais tarde. É por isso que, vez ou outra, aparece uma história de criança que deu de presente pro pai, pra mãe ou pra alguém da família o seu próprio cocô. Quer presente mais lindo? Para eles é lindo mesmo, uma parte de si mesmo, a extensão do próprio corpo.
A família, lógico, também fica feliz com a conquista dos filhos de ir ao banheiro sozinhos, usar o peniquinho, não fazer mais xixi na calça etc.
E eles percebem essa satisfação toda, o que só contribui para que o interesse pelo assunto fique maior ainda. Junto com a descoberta do controle do esfíncter eles também descobrem que podem controlar outras coisas; muitas crianças, nessa fase, começam a se mostrar mais voluntariosas, obcecadas por organização, cheias do “eu quero isso”, “eu quero aquilo”. É normal: o “eu” passa a se tornar mais presente nas frases mesmo.
Esse é um momento importante do desenvolvimento das crianças; é através dessa sujeira toda que elas expressam uma agressividade que faz parte de seu imaginário. Para elas, falar de xixi e cocô é falar de coisa feia, suja e proibida. E falar do proibido é quase como uma aventura, sempre divertido. Os pais devem encarar essa fase da forma mais natural e tranqüila possível, respeitando a criança e sem apavorar. Claro que, de vez em quando, é inconveniente, seu filho pode fazer você pagar um mico, aí vale uma conversa. Tem certas coisas que a gente não pode sair falando por aí, pra todo mundo... Mas entenda que é uma agressividade saudável, afinal, xixi e cocô não machucam ninguém.
Lá pelos 5 anos, quando a criança se acostuma com a rotina de ir ao banheiro, falar disso já não vai mais ter tanta graça, passa a ser visto como algo mecânico do dia-a-dia, como é pra gente. Isso geralmente coincide com a entrada da criança num mundo mais formal, cheio de novidades e outras conquistas, especialmente na escola. Com tantos novos interesses, ela já não acha tanta graça em xixi e cocô...
Consultoria: CIBELE MILAGRE, é psiquiatra e psicanalista.
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